DONS ESPIRITUAIS DE MANIFESTAÇÃO DO ESPÍRITO

 

Pr. Nonato Souza.

“Porque a um é dada, mediante o Espírito, a palavra da sabedoria; a outro, segundo o mesmo Espírito, a palavra do conhecimento. A um é dada, no mesmo Espírito, a fé; a outro, no mesmo Espírito, dons de curar; a outro, operações de milagres; a outro, profecia; a outro, discernimento de espíritos. A um é dada a variedade de línguas e a outro, a capacidade para interpretá-las” (1Co 12.8-10; NAA). 

No texto em referência, como se pode observar, Paulo enumera nove dons do Espírito Santo, dentre estes estão os dons do saber ou de revelação.

Nesta postagem vamos nos ater aos dons do saber ou de revelação. Está evidente que os dons do saber ou de revelação, são dons que concedem poder para saber sobrenaturalmente.

O termo mostra que o Espírito é capaz de desvendar ou mostrar algo que possa estar oculto aos olhos dos homens, porém, patentes aos olhos de Deus.

Na operação destes dons, o Espírito Santo que é conhecedor de todas as coisas pode esclarecer certas coisas que homem nenhum seria capaz de saber de outra forma. São dons indispensáveis principalmente àqueles que exercem liderança no Reino de Deus.

Podemos classificar os dons do saber ou de revelação como:

Dom da palavra da sabedoria;

Dom da palavra do conhecimento;

Dom de discernimento de espíritos.

Vamos a uma sucinta abordagem sobre o dom da palavra da sabedoria, o dom da palavra do conhecimento e o dom de discernimento de espíritos.

A Palavra da Sabedoria: “Porque a um é dada, mediante o Espírito, a palavra da sabedoria” (1Co 12.8, ARA).

A “Palavra da sabedoria” é o saber divino dado por meios sobrenaturais. O professor de teologia BOYD diz que “é a manifestação do Espírito Santo operando por iluminação divina, revelando conhecimento divino”. [1]

Em tempos tão difíceis como os atuais, os que exercem liderança no âmbito da igreja local precisam urgentemente do dom da palavra da sabedoria. O exercício deste dom é indispensável para o sucesso no governo da igreja além de ser importante na solução de problemas eclesiásticos (At 6.3,10; Lc 12.11,12).

Nem todos os membros da igreja possuem este dom, mas alguns a quem o Espírito Santo escolhe. No entanto, todos os crentes podem adquirir sabedoria do alto, pois todos são encorajados a buscá-la (Tg 1.5).

A aquisição do dom da palavra da sabedoria não se dá por esforço humano em querer conhecer a sabedoria divina, nem está relacionado ao crescimento espiritual. Trata-se de dom de Deus (Jo 4.20-26; At 8.26-40). O professor e teólogo SOUZA enfatiza sobre este importante dom ao dizer:

“Deus encerra no seu depósito divino o conhecimento de todos os fatos do Céu e da Terra, do presente e do futuro, do tempo e da eternidade. Deus é consciente tanto das coisas que acontecem no presente como das coisas que acontecerão num futuro mui distante. Esse conhecimento, inclusive do infinito, é realmente a expressão da sabedoria divina que, por sua vez, é comunicada pelo Espírito Santo a certos servos de Deus, através do dom da palavra da sabedoria, com vistas ao cumprimento dos seus soberanos propósitos, do seu determinado conselho, de seu infinito conhecimento e experiência.” [2]

Este importante dom de revelação é capaz de guiar o crente ou líder espiritual em determinadas casos e ocasiões, sem que este saiba, levando-o a tomar as decisões necessárias, que engradeçam o Reino de Deus e glorifique a Jesus. SOUZA diz que “há diversidade de operações e manifestações no dom da palavra da sabedoria.”

Mesmo entendendo ser prudente não determinar restritamente os meios pelos quais esse dom se manifesta, SOUZA menciona que a palavra da sabedoria tem alguma semelhança com a profecia. Ele mostra como pode se manifestar o referido dom:

“Este dom, portanto, pode se manifestar em voz audível, como também por intuição espiritual. Muitos o tem recebido por esses meios. Às vezes pode acontecer no mais absoluto silêncio, ouvirmos, como em voz audível, a palavra com que Deus nos revela fatos inteiramente desconhecidos. Em outras ocasiões, não nos parece ouvir qualquer voz; somos tomados de forte intuição de que algo acontecerá e proclamamos, sem qualquer sombra de dúvida, o que Deus tem falado, dando-nos certeza de eventos que se manifestarão em tempo próprio.” [3]

O dom da palavra da sabedoria tem operado em diversas ocasiões, no passado e também no presente, pelo ministério de muitos homens cheios do Espírito. É de se destacar alguns textos bíblicos para que o leitor conheça ou lembre a ação do Espírito através deste dom de revelação:

a) No governo da Igreja: At 6.1-8; 15.1-20,27-29; b) Nas respostas de Jesus, que desarmou completamente os escribas e fariseus: Mt 21.24-27; 22.15-22; c) Quando Jesus prometeu aos seus discípulos “boca e sabedoria a que não poderão resistir, nem contradizer todos quantos se vos opuserem” (Lc 21.15), falando-lhes de um dom que está além da sabedoria e preparo humano: Lc 21.14; d) Na sabedoria de Pedro diante do sinédrio: At 4.8-14,19-21; e) No discurso ousado de Estêvão: At 6.9,10.

Palavra do Conhecimento.[...] e a outro, segundo o mesmo Espírito, a palavra do conhecimento” (1Co 12.8, ARA).

A palavra do conhecimento à semelhança do dom da palavra da sabedoria é dado de forma sobrenatural para ocasiões específicas.

É mais que conhecimento adquirido através do processo educacional ou por conhecimento profundo adquirido mediante estudo das Escrituras, embora através do estudo das Sagradas Escrituras se possa alcançar maior conhecimento de Deus.

O dom da palavra do conhecimento, segundo o professor e teólogo HORTON, “traz a revelação sobrenatural pelo Espírito Santo de certos fatos existentes na mente de Deus”. Para HORTON este “é um dom que trás a iluminação sobrenatural do Evangelho, especialmente no ministério do ensino e da pregação”. [4]

HORTON enfatiza que “a palavra do conhecimento tem a ver com a verdade da Bíblia ou sua aplicação, e não com onde estão as coisas perdidas ou que pecado ou doença uma pessoa tem – embora Deus possa ajudar nestas situações.” [5]

O missionário e teólogo HOOVER concorda com o mesmo pensamento acima: “Muitas vezes, o Espírito assim opera, enquanto uma pessoa está pregando ou ensinando. As verdades parecem jorrar no espírito de quem fala e de quem ouve.” [6]

O experiente teólogo SOUZA revela, no entanto, que o dom da palavra do conhecimento “é sempre resultado da manifestação do elemento sobrenatural. As faculdades intelectuais do homem são úteis ao trabalho, mas a palavra do conhecimento vem por concessão do Espírito.” Ele prossegue em seu comentário dizendo:

“a função da palavra do conhecimento nunca é servir a propósitos triviais, tampouco satisfazer à mera curiosidade humana. Nada tem a ver com a vulgar pseudoprofissão de ler pensamentos ou predizer o futuro, como não significa a faculdade de penetrar no pensamento de outras pessoas. No entanto, há exceções, quando a hipocrisia ou os propósitos maus precisam ser expostos e denunciados. Em outras ocasiões, o dom consiste na revelação dos segredos de Deus. Em qualquer dos casos, a manifestação deste dom sobrenatural tem a finalidade de preservar o bem da igreja e promover a glória de Deus.” [7]

O dom da palavra do conhecimento operou em diversas ocasiões. Observe alguns exemplos a seguir que revelam a ação deste dom: a) No ministério do profeta Eliseu ao saber das estratégias do Rei da Síria (1Rs 6.12); b) Na mentira de Ananias e Safira diante dos apóstolos (At 5.3-10); c) A Pedro, ao ser visitado pelos empregados de Conélio que vieram ao encontro dele para buscá-lo (At 10.17-21).

No ministério de Jesus encontramos vários exemplos: a) Ao dizer a Pedro: “Faze-te ao mar alto, e lançai as vossas redes para pescar” (Lc 5.8-10). Veja em Jo 1.42,47; b) Quando encontrou Pedro e conheceu que ele seria um pescador de homens (Lc 5.8-10; Jo 1.42); c) Quando se encontrou com Natanael (Jo 1.47); d) Ao encontrar a samaritana e descobrir a sua irregularidade conjugal (Jo 4.17,18).

Discernimento de espíritos: “[...] a outro, discernimento de espíritos” (1Co 12.10).

O dom de discernimento de espíritos é a capacidade sobrenatural de distinguir as várias fontes e manifestações espirituais, se quem está agindo é o Espírito Santo um espírito demoníaco ou ainda o espírito humano. Por esse dom se identifica a natureza e caráter dos espíritos.

Estudiosos concordam que este é um dom plural na sua manifestação e operação, o que indica que pode operar de diversas maneiras. O termo “discernir” (gr. diákrisis) trás o sentido de “discriminação clara”, “discernimento”, “julgar perfeitamente”.

O teólogo e conferencista CABRAL é enfático em suas palavras sobre o dom de discernimento de espíritos e esclarece o assunto dizendo  o seguinte:

“Não se trata de advinhação nem qualquer tipo de habilidade psicológica para perceber coisas mediante algum tipo de comportamento. Não se trata de perceber espíritos angelicais, ou seja, anjos de Deus ou demônios. Sem dúvida, essa habilidade espiritual também é possível, mas não é uma regra espiritual. Não é preciso ter o dom de discernimento de espíritos para saber se alguém está endemoninhado ou não. A percepção pode ser notada pela experiência do crente em ver a diferença de comportamento de uma pessoa, endemoninhada ou não.” [8]

CABRAL prossegue em seu esclarecimento dizendo que “em relação ao dom, o crente é dotado a entender e julgar quando qualquer manifestação espiritual não está plenamente de acordo com os princípios da Palavra de Deus.” [9]                                        

O respeitado teólogo SOUZA explica que o dom de discernimento de espíritos tem sido confudido com outras coisas, e destaca que: “Discernimento de espíritos não é habilidade para descobrir as faltas alheias, não é leitura de pensamentos, nem fenômeno espiritista, e não tem relação com a psicologia.” [10] Ele esclarece:

“discernimento é o atributo de Deus pelo qual Ele conhece absolutamente todas as coisas e tem autoridade para julgá-las. Por esse poder e conhecimento, Deus pode julgar, inclusive seres espirituais, com retidão e justiça. Mediante este dom, Deus habilita homens em certas ocasiões a penetrar nos domínios espirituais e julgar retamente.” [11]

SOUZA prossegue em seu argumento mostrando a importância do dom de discernimento de espíritos em situações em que é impossível ao homem natural ver ou saber. Ele declara que o referido dom

“constitui uma porta aberta para uma visão nítida do mundo espiritual, isto porque, à luz da Palavra de Deus, tanto somos combatidos pelas forças (hostes) espirituais do mal, nas regiões celestiais (Ef 6.11,12), como somos protegidos pelos anjos que são “espíritos ministradores enviados para serviço, a favor dos que hão de herdar a salvação” (Hb 1.12-14). Esses, no entanto, não podem ser vistos por olhos naturais, e, sim, pelo poder do dom de discernimento de espíritos. É por esse dom que um servo de Deus é habilitado a penetrar nos domínios espirituais e distinguir entre o espírito do errao e o espírito da verdade.” [12]  

Em várias passagens bíblicas pode-se observar a manifestação deste importante dom do Espírito. Observe quando Paulo repreende o espírito de adivinhação que agia na jovem de Filipos, ao se deixar passar por simpatizante da obra de Deus. Eram estas as suas palavras: “Estes homens são servos do Deus Altíssimo e vos anunciam o caminho da salvação”. Paulo, porém, conhecendo que se tratava de uma espírito maligno, indignado, “disse ao espírito”: “Em nome de Jesus Cristo, eu te mando: retira-te dela” (At 16.16-18, ARA).

Ananias e Safira ao serem desmascarados e reprovados pelo apostolo Pedro por suas atitudes hipócritas, mesmo quando vieram aos pés dos apóstolos e depositaram ali uma quantidade enorme de dinheiro.

Penso eu, que muitos hoje, desprovidos do dom de discernimento de espíritos e movidos por terrível avareza, aceitariam com intusiasmo tal oferta, dizendo, até, ser de fato bênção de Deus para o suprimento de Sua Obra. Pedro, porém, reprovou-os dizendo-lhe: “Ananias, por que encheu Satanás o teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo, reservando parte do valor do campo? (At 5.1-5).

Paulo ao descobrir um servo de Satanás que se opunha ao progresso da evangelização tentando impedir que a Palavra fosse anunciada. Veja o texto:

“Todavia, Saulo, que também se chama Paulo, cheio do Espírito Santo e fixando os olhos nele, disse: Ó filho do diabo, cheio de todo o engano e de toda a malícia, inimigo de toda a justiça,  não cessarás de perturbar os retos caminhos do Senhor? Eis aí, pois, agora, contra ti a mão do Senhor, e ficarás cego, sem ver o sol por algum tempo. No mesmo instante, a escuridão e as trevas caíram sobre ele e, andando à roda, buscava a quem o guiasse pela mão. Então, o proconsul, vendo o que havia acontecido, creu, maravilhado da doutrina do Senhor” (At 13.9-12).

Através deste dom a Igreja do Senhor Jesus é provida, em especial os ministros, visando assim manter os crentes salvos da influência enganadora dos falsos mestres (Tt 1.10) e  ajudando-nos também a entender o espírito que está a operar (1Tm 4.1).

 

NOTAS:

[1] BOYD, Frank M. Cartas aos Coríntios, Inrodução e Comentário. Rio de Janeiro: CPAD, 1984. pg. 63.

[2] SOUZA, Estêvam Ângelo de. Nos Domínios do Espírito. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD. 1987,  pg. 139.

[3] SOUZA, Estêvam Ângelo. Op. Cit. pg. 140.

[4] HORTON. Stanley M. O que a Bíblia diz sobre o Espírito Santo. 1ª Ed. Rio de Janeiro: CPAD. 1993, pg. 296.

[5] HORTON, Stanley M. I e II Coríntios, os problemas da Igreja e suas soluções. 4ª Ed. Rio de Janeiro: CPAD,. 2017, pg. 115.

[6] HOOVER, Thomas Reginald. Comentário Bíblico 1 e 2 Coríntios. 1ª Ed. Rio de Janeiro: CPAD, pg. 101.

[7] SOUZA, Estêvam Ângelo de. Nos Domínios do Espírito. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD. 1987,  pg. 147.

[8] CABRAL. Elienai, Movimento Pentecostal, As doutrinas da nossa fé. 1. Ed. Rio de Janeiro: CPAD. 2011, pg. 46.

[9] CABRAL. Elienai, Op. Cit. pg. 46,7.

[10] SOUZA, Estêvam Ângelo de. Nos Domínios do Espírito. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD. 1987,  pg. 153.

[11] SOUZA, Estêvam Ângelo de. Op. Cit. pg. 153

[12] Ibidem, pg. 153,154

 

 

 

 

 

 

 



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