O evangelho pregado a Cornélio; ... pregado aos gentios
Por Nonato Souza.
“Diante disto, Pedro começou a compartilhar: Agora sim,
percebo verdadeiramente que Deus não trata as pessoas com qualquer tipo de
parcialidade, antes, porém, de todas as nacionalidades, recebe todo aquele que
o teme e pratica a justiça” (At 10.34,35).
Fico a pensar na grande dificuldade que teve apóstolo Pedro,
em se deslocar de Jope, onde estava hospedado para se dirigir a Cesaréia à casa
de um centurião Romano a pregar-lhe o evangelho. Sei que para o apóstolo não
foi tão simples assim. Apegado às tradições da lei, se viu numa situação
difícil ao ser revelado pelo próprio Deus: “Não faças tu comum ao que Deus
purificou” (10.15).
Enquanto orava ao Senhor, Pedro é instado pelo Espírito
Santo a acompanhar uma comitiva enviada por Cornélio que o levaria a Cesaréia.
Pedro, então, vai ao encontro de Cornélio, preocupado, é claro, com o
sentimento de que jamais deveria juntar-se ou entrar na casa de estrangeiros
(10.28), acentuando ainda que esse gentio, em particular, é um centurião romano.
Sabe-se que entre os judeus mais piedosos era costume afastar-se o máximo dos
romanos, pois, estes tinham à época, conquistado praticamente todo o mundo
conhecido e agradeciam este feito aos seus deuses. Os judeus debaixo do jugo
romano, às vezes eram instados a mesclar as religiões, o que os levava a
manterem-se distantes.
Tendo sido advertido por Deus a não tratar Cornélio e os
seus, de impuros em uma revelação, ainda que de forma obscura, Pedro viaja
atendendo a recomendação divina e chega à casa do centurião onde é recebido.
Depois de alguns acontecimentos inusitados e a exposição da revelação de Cornélio sobre o
porquê mandou chamá-lo, lhes prega o evangelho e é surpreendido pelo
inesperado: Deus derrama o Espírito Santo, assim, como derramara sobre eles no
princípio. Pedro, então, surpreso lhes diz: “Pode alguém, porventura, recusar a
água, para que não sejam batizados estes que também receberam, como nós, o
Espírito Santo?” (10.47).
Entendo que a conversão de Cornélio e os seus, foi um porta
aberta para que a graça de Deus alcançasse os gentios e consequentemente, o
evangelho de Jesus Cristo chegasse até nós (Ef 2.13). Graças a Deus, fomos alcançados. Somos o povo
de Deus, que Ele comprou com o seu próprio sangue. Somos um povo que temos
leis, regras, princípios, que independentemente, de quão bons sejam, nunca
deve nos impedir de cumprir nossa missão no âmbito do Reino de Deus.
Hoje, não é possível que nos limitemos, quanto à evangelização, a esse comportamento de Pedro, se entramos ou deixamos de entrar em casa de gentios, visto tratar-se de necessidade urgente em levar vidas a Cristo através da pregação da Palavra. É claro que o assunto deve ser visto à luz da Palavra de Deus, uma vez que muitos agem de forma legalista, e por querer manter a pureza e santidade evitam ir àqueles que estão
distantes de Deus por seus atos pecaminosos, e que poderiam ser alcançados pelo
evangelho de Cristo Jesus, se houvesse maior disposição em buscá-los onde estão.
Justo Gozáles diz que “a fim de salvar essa pureza, com frequência, limitamos
nosso círculo de contatos para que sempre estejamos entre cristãos e evitemos
conviver com aqueles que não acreditam no que acreditamos”. Ele diz que a vida
em comunidade tem o seu importante papel, nos fortalecendo quando estamos
fracos e nos ajudando a descobrir a vontade de Deus, mas, que “quando levamos
isso a extremos, corremos o risco de nos limitar tanto a essa comunidade que
esquecemos que Cristo morreu não só por nós mesmo, mas também por todas aquelas
outras pessoas cuja companhia evitamos: o irresponsável, o imoral, o amoral, o
descrente e assim por diante” (Justo L. González, Atos o evangelho do Espírito
Santo. Ed. Hagnos).
Ora, o próprio apóstolo Pedro asseverou: “Reconheço por
verdade, que Deus não faz acepção de pessoas; mas que lhe é agradável àquele
que, em qualquer nação, o teme e faz o que é justo” (10.34,35), isto ele diz reconhecendo que Cristo morreu por todos pecadores. Jesus já havia mostrado esta
necessidade de se buscar o perdido ao dizer: “O Filho do homem veio buscar e
salvar o que se havia perdido” (Lc 19.10). Eis ai o exemplo do Salvador Jesus.
Tendo, Jesus, vindo salvar os perdidos pecadores, não deve a
igreja também cumprir sua missão, buscando os perdidos, independentemente da condição
em que estejam? Pedro foi à casa de um centurião romano. E foi ali por ordem de Deus, pois, haviam almas a serem alcançadas. A mente legalista de Pedro
teve dificuldade de entender toda aquela situação, mas Deus tinha um propósito
de salvação com aquela família, então, resolveu obedecer a Deus. Estamos
dispostos a cumprir a ordem de Deus, mesmo quando esta, demanda uma difícil e
arriscada missão?
Tenho convicção que a Igreja deve abster-se de todo mundanismo
em que está mergulhada essa sociedade apodrecida. Porém, não podemos, agir como se a igreja fosse só para gente da nossa estirpe, nos isentando de
nossa responsabilidade evangelística. Justo González mostra que “quando as
pessoas são rejeitadas em algumas de nossas igrejas porque elas ‘não são
decentes’, ou porque ‘têm vícios’, ou porque não concordam com nossa ideologia
política, está na hora de pararmos e refletirmos sobre este episódio de Pedro e
Cornélio e nos perguntarmos qual é o sentido para nós hoje quando declaramos
que Deus não demonstra parcialidade em relação às pessoas” (Justo L. González,
Atos o evangelho do Espírito Santo. Ed. Hagnos).
A responsabilidade de proclamar o evangelho a todos está
sobre os ombros de cada cristão, e nessa tarefa não podemos nos esquecer
dos que ordinariamente, vivem à margem do reino de Deus. Jesus morreu por eles também,
porque não buscá-los e resgatá-los. Esta é a missão da igreja hoje.
Comentários
Postar um comentário