Evangelizar é, de fato, uma responsabilidade da igreja?


“Disse-lhes, Jesus outra vez: Paz seja convosco! Assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós” (Jo 20.21).
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Evangelizar é uma responsabilidade da igreja?

Por pastor Raimundo Nonato Souza, para o blog Desafiando Limites.
Estou de volta, depois de alguns dias sem escrever neste respeitado blog. As ocupações me deixaram ausente por alguns dias; na verdade estava debruçado em outro projeto. Terminada a tarefa sob minha responsabilidade, aqui estou. Desta feita, quero abordar um assunto que para alguns cristãos é importante, pela sua significância, apesar de ser comum e sem relevância para outros.
O texto acima aborda a comissão dada por Cristo aos seus discípulos como anunciadores das Boas Novas ao mundo. Assim como ele tinha sido representante do pai, Jesus lhes envia debaixo da mesma autoridade para pregar, ensinar, realizar milagres por todo mundo, dando continuidade àquilo que Ele tinha iniciado na Judéia. Da mesma forma que o Pai enviou o seu Filho, Jesus envia os seus seguidores.
Bem, vamos ao assunto, mais especificadamente. Quem não ouviu falar sobre “evangelismo”, “evangelizar”. Ora, este é assunto quase que diário dos cultos e reuniões das igrejas locais. Sempre que possível, e lembrado, se fala sobre o assunto. Apesar do bombardeio constante sobre os cristãos para evangelizarem, pois esta é a nossa responsabilidade, o que se vê é um verdadeiro descaso com o assunto.
Não tenho dúvida que existe certo abandono desta prática tão prima na igreja local atualmente. Há muitos que, acomodados dentro das quatro paredes, raramente se aventuram numa saída ao campo evangelístico. Satisfeitos e acomodados em nossos belos e aconchegantes templos, torcemos e até convidamos esporadicamente alguns a vir em nossos cultos ouvir nossas pregações, em sua maioria pobre de doutrina bíblica e boa hermenêutica, baseada num antropocentrismo que tem como objetivo, apenas, satisfazer o ego dos homens. Uma tristeza!
Lembro-me, outrora, que estávamos acostumados a sair às ruas e bairros de nossas cidades objetivando levar o Evangelho de Cristo a todos que carentes de palavras de vida, que estavam à espera dos santos que anunciavam ousadamente o amor de Deus em Cristo. Estamos perdendo essa característica em nossas igrejas. Aliás, senhores, se nossa igreja cresceu tanto e se chegamos aonde chegamos, deve-se isto à prática constante e perseverante daqueles que diuturnamente se aventuram pelas ruas, bairros, logradouros públicos, feiras, na prática do genuíno evangelismo pessoal, cultos ao ar livre, nas casas, praças, ônibus, metrôs etc, proclamando as verdades do Evangelho de Cristo, capaz de salvar o pecador dos seus miseráveis pecados e transformá-los em novas criaturas.
Quando os santos do Senhor exerciam de fato a prática do evangelismo, normalmente toda a semana se via anunciar em nossos cultos, leitura de uma lista interminável de nomes de novos convertidos, que receberam a oração da fé, quando decisivamente aceitaram crer no Evangelho de Cristo para ser discipulados pela igreja. Fazia-se discipulado de novos conversos com grande alegria e poucos desses ficavam para trás, devido ao cuidado que a igreja tinha com os mesmos.

Um retorno à prática do evangelismo.placa-retorno

Hoje, sinto a necessidade urgente de um retorno a esse trabalho espiritual. Não estou falando da criação de um simples “departamento de evangelismo” composto por um líder e alguns poucos componentes que pouco ou nada fazem, embora se esforcem para cumprir tal tarefa. Isso nós já temos. Estou falando de tornarmos a igreja local num grande departamento evangelizador, levando-a a sentir arder no coração a chama do Espírito, apiedando-se de muitos que caminham para a perdição, arrebatando-os do fogo do inferno (Jd vs. 22,23).
Entendo que a prática do evangelismo na igreja está alicerçada em necessidades básicas fundamentais. Todos necessitam da salvação em Cristo Jesus, pois tendo o homem através de um ato de desobediência pecado contra Deus, ficou debaixo da condenação (Rm 3.23; 5.12), podendo então, ser liberto somente em Cristo Jesus, nosso Senhor (Rm 5.8-11; Jo 8.36). Esta salvação só poderá ser alcançada com exclusividade na pessoa bendita de nosso Senhor Jesus Cristo. Não há outro nome pelo qual se possa alcançar o bendito dom da salvação (At 4.12).
Gosto da expressão de Jesus diante da murmuração do povo e líderes religiosos quando entrou na casa de Zaqueu com salvação. Jesus revela claramente que o estado do homem sem Deus é de perdição:
“Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o que se havia perdido” (Jo 19.10; o grifo é meu).
Ora, pelo texto acima, entende-se que sem Cristo o homem está irremediavelmente perdido. Nenhuma religião tem poder para salvar o homem. Ainda que este pratique boas obras, não poderá atender as demandas da lei de Deus. Morto em suas ofensas e pecados, o homem não tem nenhuma capacidade ou condição de salvar-se. Aos que estão perdidos, a igreja deve evangelizar (gr.euaggelion), anunciando as Boas Novas de Deus, perfeitamente compreensível a todos, para que possa encontrar a única Porta de entrada para o céu, o único Caminho para encontrar Deus: Jesus Cristo, o Salvador do mundo.

Evangelizar é apresentar Jesus como único recurso para salvação da raça humana caída.

frustracaoEssa é uma verdade que precisamos viver cada dia. Evangelizar é na verdade, apresentar Jesus, como único recurso na economia divina para salvação de todo aquele que crê. Aqui se encaixa o papel da Grande Comissão que não é uma opção, mas um mandamento imperativo repetido em todos os evangelhos, além de Atos dos Apóstolos. Não temos outra opção senão nos envolver ardentemente, pois todos que alcançados foram pelas bênçãos do evangelho são também enviados a compartilhar do evangelho.
A tarefa evangelizante é responsabilidade de cada salvo. Não é e nem deve ser objeto de indagação, se podemos ou se devemos ou não evangelizar.Evangelizar é uma ordem. Observa-se no tempo presente a quantidade enorme de desculpas dadas sempre por aqueles que se escusam da responsabilidade para com a obra evangelística. Ouço cristãos (cristãos?) dizerem sobre suas eternas ocupações e por isso não tem tempo para tão importante trabalho. Ora, será que o crente anda tão ocupado que não consegue ouvir o clamor de milhões de almas aflitas, distantes de Deus?
Outros há que enfatizam o cansaço, stress e que não tem condições físicas e emocionais para levar a mensagem salvívica aos corações. Neste caso é bom observar o belo exemplo de Jesus que mesmo estando cansado da viagem não deixou de cumprir sua missão evangelizando a mulher samaritana junto à fonte de Jacó (Jo 4.6). Porque tanto descaso com tão importante tarefa? Ou não temos convicção que a missão de evangelizar o mundo nos foi entregue e implica em grande responsabilidade e dever?
A ti, pois, ó filho do homem, te constituí por atalaia sobre a casa de Israel; tu, pois, ouvirás a palavra da minha boca e lha anunciarás da minha parte. Se eu disser ao ímpio: ó ímpio, certamente morrerás; e tu não falares, para desviar o ímpio do seu caminho, morrerá esse ímpio na sua iniquidade, mas o seu sangue eu o demandarei da tua mão. Mas, quando tu tiveres falado para desviar o ímpio do seu caminho, para que se converta dele, e ele se não converter do seu caminho, ele morrerá na sua iniquidade, mas tu livraste a tua alma (Ez 33.7-9; grifo é meu).
Eu sou devedor tanto a gregos como a bárbaros, tanto a sábios como a ignorantes (Rm 1.14; o grifo é meu).
Porque se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois me é imposta essa obrigação; e ai de mim se não anunciar o evangelho (1 Co 9.16; o grifo é meu).
Ora, a ordem do Senhor é enfática aos que recebeu dEle talentos: “Negociai até que eu venha” (Lc 19.13). Se cada crente recebeu do seu Senhor talentos e a ordem é para negociar os mesmos com nosso trabalho, porque estamos parados, inertes, omisso? Saiba que seremos chamados à prestação de contas da nossa mordomia no tempo certo (Lc 16.2).

Somos desafiados à prática do evangelismo. Vamos atender a este desafio?

challenge-aceptedO soluço de milhões de almas deviam nos incomodar diuturnamente a ponto de levar-nos ao sentimento de profunda compaixão em oração constante pela salvação das almas e trabalho do Senhor. Lionel Fletcher escreveu:
Todos os grandes ganhadores de almas através dos séculos foram homens e mulheres incansáveis na oração. Conheço como homens de oração quase todos os pregadores de êxito da geração atual, tanto como os da geração próxima passado, e sei que, igualmente, foram homens que oravam intensamente (citado por Orlando Boyer no livro heróis da Fé, CPAD, pg. 4).
A preocupação constante dos homens de Deus, o sentimento de compaixão profunda pela salvação do pecador os levavam frequentemente à presença de Deus em oração intercessória objetivando ver multidões aos pés do Salvador. Sabe-se que este trabalho se torna impossível se não for regado pela oração constante e abdicação de tudo que está à nossa volta. Lembro-me das palavras de Davi Brainerd, arauto enviado aos peles vermelhas (1718 – 1747), já doente e perto da sua morte:
Eis-me aqui, Senhor, envia-me a mim até os confins da terra; envia-me aos selvagens do ermo; envia-me para longe de tudo que se chama conforto da terra; envia-me mesmo para a morte, se for no teu serviço e para promover o teu reino… Adeus, amigos e confortos terrestres, mesmo os mais anelados de todos. Se o senhor quiser, gastarei a minha vida, até os últimos momentos, em cavernas e covas da terra, se isso servir para o progresso do reino de Cristo (citado por Orlando Boyer, livro Herois da Fé, CPAD, pg. 77).
Ganhar almas! Pugente expressão que está sendo esquecida do nosso vocabulário cristão. Não foi esta a suprema tarefa do Senhor Jesus Cristo aqui na terra? (Lc 19 10). Não recebeu Paulo a mesma visão e dedicação? (1 Co 9.20). Não instou o apóstolo dos gentios a que seguíssemos o seu exemplo? (1 Co 11.1). Por que, então, a maioria dos crentes se contenta em ficar comodamente sentados nos bancos das igrejas ouvindo sermões cultos após cultos, enquanto os campos estão brancos, prontos para ser ceifados? Não é tempo de tomar decisões e levantar os olhos, para contemplar as multidões que vivem como ovelhas sem pastor?
Deus tenha misericórdia de nós! O poder temporal dos romanos, a filosofia grega e a religiosidade dos judeus não puderam atender os reclames da geração daquele tempo. Somente o evangelho, pregado no poder do Espírito Santo através da Igreja foi capaz de satisfazer suas reivindicações e necessidades espirituais.
Se quiser, poderás te tornar um ganhador de almas. Nada nem ninguém poderá te impedir. Há um chamado geral para todos os crentes: você e eu podemos e devemos fazer parte disso.
A evangelização levará os povos a glorificar e exaltar o santo nome do Senhor. É bom que se diga que o centro da evangelização na igreja não é o homem, mas Deus. O trabalho evangelístico tem como objetivo principal arrebatar o homem do inferno, mas, sobretudo, esse é um trabalho que glorifica o nome de Deus. Deus será glorificado sempre e sempre na salvação dos homens perdidos.
Você está disposto a ir em busca dos perdidos com a bendita mensagem de esperança e fé? Muitos anseiam ouvir isso mas, infelizmente, poucos estão dispostos a investir seu tempo nessa sublime tarefa.
perdido

Conclusão

Senhoras e senhores, o amor que Jesus demonstrou no Calvário por cada um de nós deve nos constranger e entender que uma alma vale mais que o mundo inteiro (Mc 8.36,37). Gosto muito do que disse pastor Gilberto no seu livro: “A prática do evangelismo pessoal”:
Se, como parte de um curso de evangelismo pessoal, tivéssemos de passar 24 horas no Inferno, para ver o que se passa lá entre os perdidos, ao voltarmos, toda nossa vida giraria em torno da obra de evangelizar e ganhar almas perdidas, e também desviados, e jamais pôr tropeço na vida de alguém. Você já pensou nisso?
Irmãos estejam certos, a tarefa evangelística é imposta à igreja de Cristo. Em todos os tempos oevangelismo foi prioridade número um dos salvos em Cristo Jesus. Cada momento nos aproximamos da iminente volta do Senhor Jesus. É hora de despertar. Não podemos perder a oportunidade de ganhar almas enquanto é dia, a noite vem quando não poderemos mais trabalhar (Jo 9.4). Além disso, devemos olhar com cuidado a recomendação bíblica que nos diz: “[...] o que ganha almas sábio é” (Pv 11.30).
Que o Senhor nos ajude!
*O pastor Raimundo Nonato serve ao Senhor pastoreando a igreja, além de ser um servo de Deus e fiel.
E você, o que você achou do artigo? Será que evangelizar é, de fato, responsabilidade da igreja? E se for, estamos cumprindo nosso dever? E, ainda, será que estamos fazendo do jeito certo?
São tantas questões… deixe-nos sua opinião e nos ajude a respondê-las adequadamente.

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