Os que vivem para impressionar




Por Nonato Souza

Em minhas meditações, deparei-me com um texto bíblico que me chamou atenção. A partir do capítulo 9 de 1Samuel encontro Saul, filho de Quis, homem este descrito pela Bíblia como tão belo, que entre “os filhos de Israel não havia outro homem mais belo do que ele; desde os ombros para cima, sobressaia a todo o povo”.

Devido dificuldades no reino, os anciãos de Israel se reúnem com Samuel, em Ramá e pedem um rei sobre si. Deus, então, orienta a Samuel que dê ouvidos à voz do povo em tudo quanto disser a ele, “pois não te tem rejeitado a ti; antes, a mim me tem rejeitado, para eu não reinar sobre ele” (1Sm 8.7).

Tendo, pois, declarado ao povo todo o costume do rei que haveria de reinar sobre eles, Samuel unge a Saul, primeiro rei de Israel (1Sm 10.1) e o apresenta ao povo com estas palavras: “Vede já a quem o Senhor tem elegido? Pois em todo o povo não há nenhum semelhante a ele. Então, jubilou todo o povo, e disseram: Viva o rei!” (10.24).

Saul, então, passa a reinar sobre Israel, vence os amonitas tendo a partir de então, uma breve ascensão, para em seguida, vermos uma história de desobediência, fracassos e derrotas constantes em sua vida e reinado.

Não resta dúvida, que Saul era um homem impressionante não apenas para o povo (até aqui, nenhum mal), mas ele mesmo se achava impressionante para si mesmo (aqui começa o grande problema de Saul). Ao contrário de Samuel tinha dificuldades em obedecer, e gostava de se apresentar como aquele que podia tudo. Não conseguia acatar os conselhos do seu líder espiritual e constantemente desobedecia as ordens de Samuel.

No capítulo 13 de 1Samuel, ele não consegue esperar Samuel chegar antes de oferecer o sacrifício. Se ele tivesse tido paciência, teria adquirido confiança no Senhor, e certamente, se firmado à frente do seu reinado. Por não confiar em Deus, e confiar em si mesmo, foi duramente repreendido por Samuel que reprova a sua atitude e lhe diz: “Agiste nesciamente e não guardastes o mandamento que o Senhor, teu Deus, te ordenou; porque, agora, o Senhor teria confirmado o teu reino sobre Israel para sempre. Porém, agora, não subsistirá o teu reino; já tem buscado o Senhor para si um homem segundo o seu coração e já lhe tem ordenado o Senhor que seja chefe sobre o seu povo, porquanto não guardastes o que o senhor te ordenou” (vv. 13,14). O resultado da desobediência de Saul neste episódio e nos demais que se deram nos próximos capítulos, causou-lhe a perda do reinado de Israel e o seu fracasso espiritual.

Observa-se, com clareza que Saul, à medida que desobedecia, ia claramente declinando no seu reinado e em sua vida espiritual. Surge Davi, cuja fama começa crescer. A este, Saul tentou matar várias vezes. Levou a nação de Israel à prática da desobediência, e a se tornar escrava dos povos vizinhos. Foi o fim do reinado de Saul.

À semelhança de Saul, estamos convivendo na atualidade, com crentes e, pasmem, líderes com este mesmo comportamento. São homens, cujo objetivo principal não é glorificar a Deus, nem realizar sua obra, mas impressionar aqueles que lhe cercam.

Estes que assim se comportam se acham (e não abrem mão disso) impressionantes, deslumbrantes, chocante, etc (2Tm 3.1-9). Aliás, líderes e crentes impressionantes, estão sempre rodeados por aqueles, cuja função principal é a lisonja (Agradar ou tentar agradar com lisonja ou adulação para obtenção de favores, privilégios etc.; Aulete digital). Eles gostam e aceitam ser lisonjeados. Os que vivem para impressionar estão sempre à cata de mostrar os seus feitos (Mt 6.1). São ainda, arrogantes, prepotentes, insubordinados, insubmissos, autoconfiantes e à semelhança dos fariseus, estão sempre tocando trombeta acerca dos seus feitos (6.2). Essa classe de gente adora ser aplaudida, haja vista, sua fome insaciável por glória. Não conseguem viver fora das manchetes, estão sempre em busca de reconhecimento. A falta de integridade em suas vidas tem sido a marca de muitos que assim se comportam, pois estão sempre envolvidos em pecados, os mais grosseiros possíveis, não servindo a Deus com uma consciência pura (Rm 9.1).

Igrejas, pastoreada por líderes impressionantes, promovem campanhas extravagantes, com temas extravagantes, com mensagens triunfalistas, regada por um evangelho antropocêntrico, onde Jesus está do lado de fora (Ap 3.20) e que, não está nem um pouco preocupado com a alma daqueles que ali comparecem. Na fachada dos templos destas igrejas, se vê o anuncio das varias espécies de campanhas, com os mais diversos temas, cujo alvo, em sua maioria é impressionar aqueles que passam.

Estes, que tem por objetivo apenas impressionar, não têm nenhum interesse com o bem espiritual das pessoas. Na verdade, os tais estão interessados apenas nas ofertas polpudas dos fiéis e na satisfação dos seus desejos egoístas. Os tais, na verdade, embora tenham aparência de piedade, negam-lhe, porém a eficácia (2Tm 3.5).

Ao invés de serem homens da Palavra como Samuel, exercem seu ministério com o objetivo de impressionar. Samuel foi um homem marcado pela obediência a Deus, mesmo quando o Senhor o levava a fazer coisas incomuns. Saul era homem levado por seus próprios sentimentos, o que o levou a uma vida de fracasso.

Concluo este assunto lembrando-me do que disse Mark Dever, acerca de três homens que dominaram sobre Israel, em seu livro: A Mensagem do Antigo Testamento: “Samuel, um homem da Palavra de Deus era marcado pela obediência. Saul, um homem impressionante era marcado pela autoconfiança e Davi, um homem impressionado era marcado pela fé” (grifo meu). Impressionar através da Palavra e exemplo de vida cristã, não me parece haver nenhum mal, desde que a glória seja para Deus (Fp 2.15). Porém, achar-se impressionante, e ainda viver esse tipo de comportamento, buscando glória para si, e até para seu ministério, levará aquele que assim procede, ao fracasso espiritual. Aqui está um cuidado que é preciso ter.

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