Armadilhas Mundanas que Levam o Cristão ao Fracasso Espiritual


Por Nonato Souza.



O apóstolo João classificou as coisas que no mundo há em três categorias: concupiscência da carne dos olhos e a soberba da vida. CHAMPLIN diz “é um mundo caracterizado pela concupiscência, pelos desejos carnais, pelo orgulho, pela busca egoísta dos próprios interesses”.[1] Estas atitudes do coração, que por vezes estão abrigadas no interior de muitos crentes, trazem graves prejuízos à vida espiritual. Sabendo disto, o apóstolo exorta os crentes à vigilância constante a fim de refrear tais desejos. O texto bíblico diz: “Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo” (1Jo 2.16). Vamos fazer um breve estudo sobre estes aspectos de mundanismos citados pelo apóstolo João:

Concupiscência da carne.
Trás o sentido de forte desejo em fazer algo que agrada a carne e desagrada a Deus. É o desejo em todas as suas facetas. Tem relação também, com desejos impuros, busca de prazeres pecaminosos, prazer pela sensualidade (1Co 6.18; Fp 3.19; Tg 1.14).
Sendo o templo do Espírito Santo, deve o cristão buscar viver em santidade, fugindo de todo tipo de imoralidade. Se o desejo mal não for resistido, certamente, levará o crente ao pecado e consequentemente à morte espiritual. O COMENTÁRIO BÍBLICO BEACON diz que a “concupiscência da carne” não á simplesmente a tentação de satisfazer um apetite legítimo, como ocorreu com Jesus no deserto, mas o desejo pelo abominável como “glutonaria, bebedeira e as relações sexuais irregulares” [2].
O citado Comentário Bíblico explica ainda sobre este terrível desejo:

“O significado maléfico da frase está na palavra ‘concupiscência’, não na “carne”. Ela encontra sua ilustração no erotismo que é espalhado por meio de imagens, palavras e voz, pelo mundo do entretenimento e da propaganda. Seu perigo está no fato de se esconder atrás da palavra amor. A concupiscência não conhece critério ou norma. Somente a satisfação própria. Ela é essencialmente egoísta, irresponsável e autocosumidora”. [3]

A carne (gr. sarx), denota a natureza pecaminosa do ser humano, corrompida pelo pecado em oposição a Deus. Para LOPES

“carne fala daquelas tentações que nos atacam de dentro para fora. São desejos sórdidos. É o apelo para se viver o prazer imediato. É endeusar os prazeres puramente físicos e carnais. É viver sob o império dos sentidos. [...] é a nossa natureza caída. São os impulsos e os desejos que gritam para ser satisfeitos. Estes desejos estão dentro do nosso coração”. [4]

Os desejos da velha natureza estarão sempre prontos para fazer o que desagrada a Deus. “Ela sempre apela aos apetites normais e tenta o indivíduo a satisfazê-los de maneiras ilícitas”. [5] Não convém, pois, acatar os desejos da carne, pois, Paulo diz que “os que estão na carne não podem agradar a Deus” (Rm 8.8).

Concupiscência dos olhos.
Tem a ver com desejos que atraem os nossos olhos, porém proibidas por Deus, incluindo ai o desejo de olhar para o que dar prazer (Ex 20.17; Rm 7.7). É a cobiça pelo dinheiro, bens ou outras coisas matérias.  Sabe-se que o homem torna-se cativo do que vê. Para WIERSBE a concupiscência dos olhos atua de maneira mais refinada. Trata-se dos prazeres que satisfazem a vista e a mente: prazeres intelectuais e sofisticado. [6]
Um exemplo claro e bastante conhecido é o caso de Acã, que viu dentre os despojos dos inimigos de Deus uma boa capa babilônica, e duzentos siclos de prata e, uma cunha de ouro do peso de cinquenta siclos e cobiçou-as trazendo para si, como consequência, morte e destruição para dentro de sua casa e a todo o exército de Israel. MACARTHUR diz que “Satanás usa os olhos como uma via estratégica para incitar desejos incorretos (Js 7.20,21; 2Sm 11.2; Mt 527-29)”. Ele diz que “a tentação de Eva por parte de Satanás consistiu em atraí-la com algo belo na aparência, mas gerando a morte espiritual como resultado (Gn 3.6)”. [7]
Jesus enfrentou tática semelhante quando no deserto foi tentado pelo Diabo. Observe o que diz o texto bíblico: “Novamente, o transportou o diabo a um monte muito alto; e mostrou-lhe todos os reinos do Mundo e a glória deles. E disse-lhe: Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares” (MT 4.8,9). Isto é um chamado ao pecado da concupiscência dos olhos. Jesus foi capaz de vencer Satanás com o poder da Palavra. O cristão deve, a exemplo de Jesus, no poder do Espírito Santo, resistir à concupiscência dos olhos. Estamos cercados por um mundo que está cheio de atrações visuais e muita ostentação, não temos como vencê-lo por nossas próprias forças, precisamos da força do Senhor e cuidadosa vigilância.
LOPES diz que os olhos são a lâmpada do corpo e as janelas da alma e passa a cita exemplos de personagens bíblicos que se deixaram levar pela atração dos olhos cheios de desejos:

“Os olhos são a lâmpada do corpo e as janelas da alma. Por elas entram os desejos. Eva caiu porque viu o fruto proibido. Ló viu as campinas do Jordão e foi armando suas tendas para as bandas de Sodoma. Siquém viu Diná e a seduziu. A mulher de Potifar viu José e tentou deitar-se com ela. Acã viu a capa babilônica e arruinou-se. Davi viu Bate-Seba e adulterou com ela e a espada não se apsrtou de sua casa. Cuidado com os seus olhos. Se eles o fazem tropeçar, arranque-os, porque é melhor você entrar no céu caolho do que todo seu corpo ser lançado no inferno”. [8]

É exatamente sobre este assunto que Jesus ensina aos seus discípulos quando fala sobre a candeia do corpo. Ele diz: “A candeia do corpo é o olho, sendo, pois, o teu olho simples, também todo o corpo será luminoso; mas se for mau, também o teu corpo será tenebroso” (Lc 11.34).  Observe que no ensino do Senhor Jesus, se pode ter um corpo influenciado para o bem ou para o que é bom se os olhos forem “bons” ou completamente saudáveis. Enquanto que se ocorrer o contrário, toda atividade ou tudo na vida poderá ser atingida trazendo enormes prejuízos. RYLE, fala sobre as marcas de um coração íntegro como necessidade básica do cristão realmente convertido ao evangelho de Cristo. Ele diz:

“O coração íntegro é aquele que não somente foi convertido, transformado e regenerado, mas também é o coração que está sob a poderosa, completa e habitual influência do Espírito Santo. É o coração que odeia todo comprometimento, indiferença e hesitação entre duas opiniões na vida cristã; que focaliza apenas em um objeto – o amor de Cristo, demonstrado em sua morte na cruz pelos pecadores; que tem apenas um alvo – glorificar a Deus e fazer a sua vontade; que tem somente um grande desejo – agradar a Deus e ser louvado por Ele.” [9]

A devida vigilância faz parte da vida cristã constante, isto para ser cativado pela exposição exterior das coisas que estão à sua vista, sem um exame minucioso dos seus valores, pois como bem disse o evangelista João, são coisas passageiras sobre as quais não convém fixar o coração (Jo 2.17).

Soberba da vida.
Tem a ver com o espírito de arrogância, soberba, prepotência, independência autossuficiente, que não conhece a Deus como Senhor nem Sua Palavra como autoridade suprema. Este tipo de comportamento presente na vida de muitos está mais preocupado em alcançar reconhecimento, almejando sempre a fama e poder.
O termo grego para “soberba” é alazoneia com o sentido de “pretensão”, “arrogância”, “jactância”, “orgulho”. Refere-se tanto a atitude do coração quanto ao desejo ardente de se vangloriar com coisas externas como riquezas, posição social, inteligência, poder, beleza, bens, vestuário. É ostentação, o desejo de está sempre à luz dos holofotes. 
Não é este um comportamento presente na vida de muitos cristãos hoje? Não estão muitos inchados em sua vil prepotência, montado em sua altivez de espírito, pronto a dominar, massacrar, pisar os que o cercam? Alguns pela sua soberba, são semelhantes ao servo mau mencionado por Jesus em Mateus 24.48-51: “Porém, se aquele mau servo disser consigo: O meu senhor tarde virá, e começar a espancar os seus conservos, e a comer e a beber com os bêbados, virá o senhor daquele servo num dia em que o não espera e à hora em que ele não sabe, e separá-lo-á, e destinará a  sua parte com os hipócritas; ali haverá pranto e ranger de dentes”. É exatamente com tal irresponsabilidade que agem muitos hoje. Buscando prevalecer da confiança que desfrutam, abusam de sua posição e passam a espancar os que estão debaixo de sua autoridade, se comportando como verdadeiros tiranos.
O soberbo é tendencioso a se gloriar, principalmente quando alcança alvos estabelecidos. Este é um tipo de jactância que emerge da falsa suposição de que tudo quanto realizamos é produto do nosso próprio esforço e não da ajuda de Deus ou ainda do próximo (Tg 4.16).
O soberbo gosta de promover contendas (Pv 13.10), está sempre pronto a disseminar seu veneno destruidor cuja principal característica é a falta de compaixão e misericórdia. Ele pode até agir com atos de bondade, gentileza, mansidão, bom comportamento, mas em seu interior há uma fera pronta a atacar e destroçar a quem encontra pela frente. Um ser arrogante nem sempre é aquele que pensa poder passar por cima de tudo e de todos. Este comportamento desastroso pode está também na vida de pessoas que aparentam ser bem simples, mas sem nenhuma humildade. São pessoas que nunca aceitam conselhos nem ajuda de ninguém. São realmente autossuficientes, em tudo.
Levar vantagem sobre o próximo, humilhar pessoas, desprezar a quem dele se aproxima, se portar como superior em tudo são atitudes de uma pessoa soberba e que desagrada a Deus. Deus não tolera tais comportamentos. Tiago, irmão do Senhor escreveu em sua epístola que Deus resiste aos soberbos, dá, porém, graça aos humildes (Tg 4.6).  A soberba foi o pecado que fez Lúcifer sucumbir com os seus seguidores, sendo condenados por Deus (Is 14.12-15). O líder arrogante, à semelhança de Lúcifer acabará vencido por seu próprio pecado.
As armadilhas acima mencionadas são terrivelmente perigosa e poderão levar o cristão que se deixa dominar por elas ao inferno eterno, distante de Deus. Deixe-se dominar pelo Espírito de Deus e viva a Palavra vitoriosamente. Poderoso é o Senhor para nos ajudar.

NOTAS:




[1] CHAMPLIN, R. N. O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo.  Vol. 6. 10ª Reimpressão. São Paulo: Ed. Candeia. 1998, pg. 243.
[2] TAYLOR, Richard S. Comentário Bíblico Beacon, Vol. 10. 1ª ed. Rio de Janeiro: CPAD. 2006, pg. 305.
[3] Idem,
[4] LOPES, Hernandes Dias. 1, 2, 3João. Como Ter Garantia da Salvação. 1ª ed. São Paulo: HAGNOS. 2010, pg. 123.
[5] WIERSB, Warren W. Comentário Bíblico expositivo do Novo Testamento. Vol. 2.  1ª ed. São Paulo: Geográfica. 201 2, pg. 633.
[6] Idem,
[7] MACARTHUR. John. Op. Cit. pg. 1756.
[8] LOPES. Hernandes Dias. 1, 2, 3 João, Como ter garantia da salvaão. 1ª ed. São Paulo: Hagnos, 2010, pg. 124.
[9] RYLE. J. C. Meditações no Evangelho de Lucas. 1ª Reimpressão. São Paulo: Editora Fiel, 2011, pgs. 202,203

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