A Assembleia de Deus daqui a 50 anos
Por pastor Estevam Ângelo de Souza
Estevam Ângelo de Souza (Im memória), foi pastor presidente da Assembleia de Deus em São Luis, MA, e da CEADEMA - Convenção Estadual da Assembleia de Deus no Maranhão.
Uma palavra inicial.
Nestes dias turbulentos e corridos tive a oportunidades de dar uma olhada em alguns recortes de jornais que guardo. A maioria dos meus recortes são textos do periódico Mensageiro da Paz, jornal mensal da Assembleia de Deus no Brasil, onde tive o privilégio de ler alguns artigos que voltaram a falar forte ao meu coração. Li cuidadosamente, os escritos de homens de Deus que fizeram história. Alguns, destes artigos penso em replicar no blog com objetivo de edificar a vida espiritual do povo de Deus, principalmente daqueles que não tiveram a oportunidade de ler estes belos artigos. Os créditos são dados ao Jornal Mensageiro da Paz, órgão oficial das Assembleias de Deus no Brasil.
Este artigo pastoral deste primeiro número do Forum Convencional - Boletim Informativo (março e abril de 1994) foi escrito há quatro anos antes e publicado no MENSAGEIRO DA PAZ.
A Assembleia de Deus daqui a 50 anos
Até Nabucodonozor se preocupava com o que seria o seu reino depois dele (Dn 2.29). So que ele soberbamente se preocupava com sua própria grandeza e a de seus herdeiros no reino.
Quanto a
nós que constituímos a Assembleia de Deus no Brasil, de modo especial os que
têm o encargo da liderança, é justo que nos preocupemos com o futuro desta
igreja a quem Deus confiou grandes responsabilidades, nestes tempos que
precedem a vinda do Senhor Jesus.
Há anos
passados, a revista OBREIRO publicou um artigo nosso, em que expusemos três
fases importantes da Assembleia de Deus no Brasil: fundação, expansão e
consolidação, com vistas a alertar a liderança da Igreja na atual geração para
a enorme responsabilidade que lhe cabe quanto à manutenção do padrão bíblico da
igreja, seu nível espiritual e sua condição para satisfazer os santos
propósitos de Deus quanto à salvação do mundo e sua consequente grandeza e
estabilidade espiritual.
Nas linhas
que compõem este trabalho, formulamos uma pergunta cuja resposta só virá
cabalmente daqui a meio século. Nesse tempo não estarei mais aqui para
testemunhar os fatos que são objetos de nossa preocupação. Muitos outros,
qualquer que seja sua condição espiritual, já estarão também na eternidade. Se
Jesus não vier antes disso, muitos jovens que leram este artigo certamente se
recordarão das nossas predições e, esperamos, permita o Senhor da Glória as
vejam cumpridas em seus aspectos positivos. Amém!
História acidentada
À luz das
Sagradas Escrituras, a Igreja de Jesus Cristo, por Ele edificada (Mt 16.18),
não deveria ter uma história tão acidentada, incluindo frequentes e longos
períodos de retrocessos e derrotas a que os séculos têm testemunhado. Isto tem
acontecido todas as vezes que os homens têm falhado no cumprimento da missão
divina.
Jesus
entregou a direção da sua igreja a homens a quem chamou e vocacionou com vistas
ao “aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a
edificação do corpo de Cristo...” (Ef 4.11-14). Há, certamente, nos anais do
Tribunal de Cristo, farto registro de muitos, que em diferentes épocas, em suas
respectivas gerações, cumpriram fielmente a divina missão e contribuíram
satisfatoriamente para que a Igreja atingisse as metas estabelecidas por
Cristo. Também deve haver a “nota” dos que, nos seus dias, pelos motivos que
“bem lhes pareceram”, inconscientes ou teimosamente, egoísta ou
displicentemente, levaram a Igreja do Senhor ao nível de mera organização
religiosa, inoperante e sem vida (Ap 3.1).
Desunião entre ministros
O espaço
não nos permite enumerar os fatores que têm prejudicado a Igreja, mas dentre os
muitos, a desunião entre os ministros figura entre os que mais têm contribuído
para grandes males. Malditos os encontros, malditos os discursos, malditas as
decisões que têm contribuído para lançar discórdia no seio da Igreja de Deus e
semear intriga entre irmãos em Cristo. O pode do Espírito só se manifesta onde
há unidade de Espírito.
As
desavenças entre os que pregam a paz tanto causam escândalo e perturbação como
entristecem o Espírito Santo e, consequentemente impedem o avivamento.
Não é sem
propósito que Deus tem infundido em tão grande número de cristão a crença no
batismo com o espírito Santo e o revestimento de poder, nestes dias em que a
densidade demográfica tem alcançado proporções alarmantes. Temos hoje o maior
número de crentes de todos os tempos e o maior número de descrentes, desde que
o mundo existe. Temos também os maravilhosos recursos da tecnologia moderna e
dos meios de comunicação.
É a vontade
de Deus que haja nestes últimos dias muitos milhões de crentes salvos, cheios
do Espírito Santo e de poder, pois há bilhões de perdidos por evangelizar. Por
que falamos de crentes cheios do Espírito Santo e de poder? Porque crentes
fracos e sem vida não evangelizam.
A história
registra o declínio espiritual de numerosos movimentos espirituais aos 50 anos
de existência. Conheço a Assembleia de Deus há 45 anos. Hoje está bem maior do
que quando aceitei a fé, mas, em proporção, deveria está ainda muito maior. O
ritmo de crescimento não corresponde ao número de crentes de que já se compõe.
Se todos vivessem e trabalhassem no poder do Espírito a colheita seria muito
mais abundante.
Orgulho denominacional
Passemos à
grande pergunta: O que será a Assembleia de Deus daqui a 50 anos? Percebo que é
bem alto o número de pessoas que necessitam de maior e mais profunda
experiência com Deus. Que tenham realmente a experiência da salvação e do novo
nascimento. Receio que esteja muito estreito o vínculo divisório entre a Igreja
e o mundo, parece-me que forças estranhas estão empenhadas por obliterá-la.
Para isto estão contribuindo os que substituem a simplicidade e a modéstia
cristã pelas modas e costumes mundanos. Os que desprezam a meditação na Palavra
de Deus e a oração pelos programas formalistas e os que se ocupam só de
ensaios. Os que fogem da Escola Dominical e da evangelização, por comodismo ou
displicência. O que passam o domingo na praia e os que deixam os cultos pelas
novelas. Os que têm a responsabilidade do ministério, mas não cumprem a
prescrição divina: “Prega a palavra, insta, a tempo e fora de tempo, corrige,
repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina” (2Tm 4.2).
Já vemos
muitos púlpitos sem mensagem e muitas pregações sem conteúdo bíblico e
espiritual. Aí estão os que exercem o ministério como meio de ganhar a vida e
não de ganhar as almas. Por este caminho seguiram muitas igrejas que hoje
possuem pequenos templos, grande demais para os que se congregam. Por esta
senda trilharam igrejas que só resta a organização, que estão fechando os seus
templos ou vendendo-os a ateus e inimigos do evangelho. Estas coisas estão
acontecendo em nossos dias e alguns casos são de nosso conhecimento pessoal.
Tudo isto pode acontecer quando o orgulho denominacional e a vaidade do
pregador e dos crentes tomam o lugar da santidade e do Espírito no seio da
Igreja. Estas coisas constituem grandes males, refletindo, além disso, o mal
maior – a pobreza espiritual dos crentes.
Se a
Assembleia de Deus não vigiar e não fechar as portas para os males aí
denunciados, se seguir o exemplo dos que trocam a Bíblia pela “etiqueta
social”, se apegar-se aos métodos humanos em detrimento da oração e da pregação da Palavra de Deus no
poder do Espírito Santo, daqui a 50 anos poderá ser apenas uma grande denominação composta de muitos
doutores e mestres modernistas sem vida, aplaudidos por aqueles que “não
suportam a sã doutrina”, que sofrem “coceira nos ouvidos” (1 Tm 4.3,4); poderá
ser apenas uma grande denominação, no entanto menos numerosa do que hoje!
Igreja sem doutrina e sem o poder de Deus, da qual, na melhor das hipóteses, os
crentes se tornam semelhantes aos sete mil contemporâneos de Elias – existem,
mas só Deus sabe onde eles estão.
Portas abertas para o mundo
Há os que
presunçosa ou teimosamente estão ensinando que, ou a Assembleia de Deus muda a
sua norma doutrinária ou disciplinar (abre as portas para o mundo), ou então se
esvaziará. Isso não é verdade. É
antibíblico. É a voz tentadora do inimigo de Deus e da Igreja. Ao contrário, se
a Igreja abrir as portas para o mundo, estará fechando-as para o Espírito
Santo, e, assim, de fato, inevitavelmente, esvaziar-se-á,conforma os tristes
exemplos acima aludidos, que estão às vistas de quantos tenham olhos para ver.
Se, ao
contrário, a Igreja perseverar na doutrina dos apóstolos (At 2.42), no poder do
Espírito Santo (At 1.8; Ef 5.18) e na santidade da Palavra de Deus (Ef
5.26,27), os levianos, inconscientes e mundanos poderão sair, mas a Igreja
continuará edificando-se e caminhando no temor do Senhor, no conforto do
Espírito Santo e crescendo em número (At 9.31). A prova disto são os muitos
milhares de jovens crentes da Assembleia de Deus que vivem na plenitude do
Espírito Santo, e são na igreja exemplo da santidade, sincera devoção e
eficiente atividade.
Devemos
admitir, com tristeza, que tem diminuído o percentual dos que oram, dos que
evangelizam, dos que se convertem, dos que são batizados com o Espírito Santo,
e da operação de curas e dos milagres. Essas atividades e operações são o
melhor impacto de um avivamento espiritual autêntico.
Não convém
dissimular. É mister que aceitemos a realidade e armemo-nos com a Armadura de
Deus (Ef 6.10-18), para enfrentarmos esta situação, reconduzindo a Igreja ao
padrão bíblico divino, antes que tenhamos a lamentar, semelhante ao povo de
Deus no passado: “Já não vemos nossos sinais, já não há profetas” (Sl 74.9).
Uma potência Espiritual
Por outro
lado, a Assembleia de Deus no Brasil tem tudo para se tornar uma potência
espiritual capaz de cumprir a divina missão de levar o mundo a Cristo. A Igreja
já se compõe de vários milhões de membros, na maioria jovens. Possui em suas
fileiras muitas pessoas com diferentes cursos universitários e já se projeta no
cenário político nacional. Com todo este potencial colocado nas mãos de Deus,
corrigindo as falhas já registradas, promovendo o reajustamento da verdadeira
fraternidade entre pastores e membros em geral, reintegrando-se totalmente nos
padrões genuinamente pentecostais, dando ênfase ao batismo com o Espírito Santo
e ao real revestimento de poder, pela santidade e pureza dos costumes, pela
obediência à Palavra de Deus e pela consagração, proporcionado ao Espírito
Santo de Deus o ambiente adequado para a manifestação dos dons. Se todos
pregarem a mensagem salvadora, ungida pelo Espírito Santo e ilustrada pelos
bons exemplos, daqui a 50 anos, a Assembleia de Deus terá atingido todas as
classes sociais, influenciando-as positivamente com o conhecimento da verdade
do evangelho, inclusive as autoridades e o governo em todos os seus escalões.
Isto, no
entanto, nunca será alcançado por uma denominação simplesmente numerosa, mas
por uma igreja que trabalha e vive na santidade da Palavra de Deus e no poder
do Espírito santo.
O progresso
e o triunfo total da Igreja dependem e dependerão de um avivamento permanente e
poderoso. E, em relação a esse avivamento, há três grupos distintos no seio da
igreja,
Primeiro grupo - Os que estão contribuindo para que o
avivamento continue. São os que realmente nasceram de novo, que servem e
obedecem a Deus por amor, que se alimentam diária e regularmente da leitura e
meditação da Palavra de Deus e da oração que respeita a sã doutrina como regra
infalível de fá e prática, que se conservam dentro dos padrões quanto à sobriedade
e à modéstia cristã, que praticam e promovem a fraternidade por respeito à
paternidade divina, que contribuem para o progresso da obra de Deus com o seu
trabalho e com o seu dinheiro, que praticam o cristianismo no templo, em casa e
no trabalho, os que pregam e vivem o que pregam; enfim, os que vivem em Cristo,
por Cristo e para Cristo.
Segundo Grupo – Os que não estão contribuindo para o
que o avivamento aconteça. Este grupo se compõe do s que professam a fé no
evangelho, não causam escândalo na Igreja nem na sociedade, que vão aos cultos
nos dias de festas e domingo de bom tempo, mas não compartilham das orações e
da evangelização e não participam das responsabilidades financeiras da igreja; enfim,
os que desempenham o papel de meros espectadores decentes!
Terceiro grupo – Os dos que contribuem para que o
avivamento não aconteça ou desapareça. Este é composto dos que se dizem
crentes, mas são crentes do seu próprio modo. Não honram a sã doutrina e os
bons costumes mas querem ser honrados; não respeitam o ministério da Igreja,
mas querem os privilégios da liderança e posições destacadas; que dão mal
testemunho na vizinhança e no comércio, onde exalam o mal cheiro de seus
negócios feios; são insatisfeitos e murmuradores, maledicentes e intrigantes;
são os que causam divisões e promovem discórdias e desordem no seio da Igreja
de Deus, não evangelizam, não oram e não cooperam financeiramente; enfim, os
que contribuem para desacreditar o Evangelho e entristecer o Espírito Santo (Ef
4.30).
Por outro
lado, são igualmente prejudiciais à macha do avivamento, os que confundem o
poder de Deus com barulho, vida espiritual abundante com fanatismo, os que
buscam ser aplaudidos ostentando uma espiritualidade irreal, bem como os que
vivem de empolgações infrutíferas, que levam ao descrédito a operação do
Espírito Santo.
Fonte: Forum Convencional - Boletim Informativo da CGADB
Publicação bimestral - Março e abril de 1994.
Comentários
Postar um comentário